nova história

Margília
2 min readJun 6, 2020

(eles dizem e é verdade)

Oi, margília,

Olha eu aqui de novo, xaxando com você. Senti a gente mudar e senti de vir aqui, te perguntar: acaso conheces essa força vermelha que quero chamar?

Vim até você, pois acho que vocês podem se conhecer, como as energias primas e irmãs se reconhecem. Vim aqui, no meio do seu azul te perguntar de outro tom. Você conhece a Terra Vermelha?

Eu conheço ela pouco e conheço muito também. Ela é amiga das pedras. A tal da Terra. Ela é vermelha e barro, ela é fogo e cerrado. Ela tem junto metáfora de pássaro de fogo, caliandra e toda sorte de pedraria. Ela vem de outro canto quando penso em chamá-la. Eu sou íntima dela e a desconheço em sua inteireza.

Ela me ama porque eu amo ela. E ela me ama porque me habita e tudo que me habita eu ouso amar também (até a sombra? Até a sombra).

Imagino que você não se importe se eu vier aqui falar dela. Queria saber se você a conhece também. Se vocês se encontram em alguma beira de rio e ousam conversar juntas.

Eu quero ousar com vocês. Gostaria de dançar também(nosso rio sempre palco para toda essa beleza). No meio do bailado tem sempre uma fogueira. E no meio da fogueira estou eu sempre também. E meu coração em chamas. Meu coração em brasas, que descansa, descansa, descansa.

Eu e fogo, será? Depois de nós, Margília, tanta, tanta água. Bora se aquecer? Aprender a secar? Aprender a se ser, cada vez mais, como der, enquanto der, sempre unidas em laço forte. Eu queria conversar com a Terra Vermelha que abriga fogo pra descobrir um pouco mais sobre o sangue. Nosso sangue, da terra toda.

Pra descobrir um pouco mais sobre os gostos. Sobre a chama. Sobre o chamado. Vocês me ajudam a abrir esse espaço, Terra e Margília? Vocês me encontrariam nesse passo? Me ajuda a estar em minha pele gentil? A aprender a ser fogo doce? Faísca acesa? Chama de vela e proeza?

Acho que sim. Pois energias irmãs se aliciam, se encontram, se fortalecem, como mulheres.

Há um tempo atrás descobri que tem parte de mim que desconheço. Que é forte e já pulsa dentro e não conheço o rosto. Acho que sempre vai ter uma em mim que não conheça, espero que sempre tenha uma desconhecida em mim que apareça, pra aprender a lidar com os novos contextos.

Não tem jeito, eu me olho aqui. Porque aprendi a desaguar em mim, a oceana que você me permite ser. Não tem jeito, eu não me despeço de nós. Não tem jeito, vamos ser amigas que se reconhecem.

Chamando Terra Vermelha. Margília nos cede esse encontro. Chamando eu inteira, chama, chama, chama, queima — e é doce, então deixa queimar inteira.

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